A política de São Luís mostra mais uma vez sua face mais pragmática – e preocupante. O que começou na última segunda-feira (6) como um drama de desabafo, denúncia públicas de ameaças e insinuações de perseguição política, recheado com prezuízos, terminou neste sábado (11) em uma reunião que levou vários vereadores para uma mesa de conversas e pode ser o início de uma jogada que poderá mudar as rédeas do futuro da Câmara Municipal de São Luís.
O protagonista da reviravolta é o vereador decano Astro de Ogum (PCdoB). Em discurso na tribuna na segunda-feira (6), Astro proferiu palavras duras: “Ninguém vai me ameaçar com nada, com coisíssima alguma, nada disso vai adiantar para mim”. O tom de indignação era uma referência clara e direta à eleição da Mesa Diretora, que movimenta os corredores e bastidores da Casa, mas a quem foi direcionado o discurso das ameaças e prejuízos? Ninguém soube explicar.
Na reunião deste sábado organizada por Astro de Ogum estiveram presentes o pretenso candidato a presidencia da Câmara para o próximo biênio, Beto Castro (Avante), o atual presidente, Paulo Victor (PSB), e os vereadores Wendel Martins (Podemos), Romeo Amim – Coletivo Unidos (PRD), Cleber Filho (MDB), Marlon Botão (PSB), Marcelo Poeta (PSB), Andrey Monteiro (PV), Raimundo Penha (PDT), Antônio Garcez (PP) e Raimundo Júnior (Podemos), já o vereador Otávio Soeiro (PSB) foi representado pela mãe, a ex-vereadora Bárbara Soeiro.
Fontes de bastidores indicam que o discurso de Astro não foi motivado apenas por supostas ameaças veladas, mas por um revés mais palpável: a perda de dezenas de cargos comissionados que estavam sob sua indicação na estrutura da Câmara. A insinuação de “prejuízo” feita pelo parlamentar na mesma fala seria, na verdade, um lamento por uma série de exonerações para enchugar a folha de pagamento da Câmara e que atindiu em cheio indicações do político na casa.
O drama das ameaças e a dor dos cortes de gastos, no entanto, parecem ter sido rapidamente superados. Informações exclusivas obtidas pelo blog Joerdson Rodrigues apontam que, na reunião deste sábado, o vereador Astro de Ogum esteve reunido com o grupo de parlamentares que devem apoiar o vereador Beto Castro na eleição a presidente. O desfecho? Astro deverá ser o candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Beto Castro.
A reunião e os supostos acordos de bastidores esvaziam o discurso inflamado da tribuna. As ameaças — se de fato existiram — não foram levadas às autoridades competentes ou investigadas, mas sim usadas como barganha política.
O vereador que afirmava que “não tem medo de ameaça de ninguém” e que o voto é dele e faz “dele o que quiser entender”, agora está firmemente atrelado a uma chapa. O que se vê é a confirmação de que a política do toma lá, dá cá em São Luís segue mais forte do que nunca. A “vaga” de vice-presidente parece ter sido a verdadeira moeda de troca para encerrar o mistério das ameaças e garantir a adesão de um voto de peso à chapa de Beto Castro.