Dos filósofos da Grécia Antiga aos pensadores contemporâneos, o elemento que permite que novos debates sejam propostos e desenvolvidos é a dúvida, a inquietação dos indivíduos com os “porquês”. Ao longo da história, essa condição inerentemente humana e possibilitadora passou a ser instrumentalizada, dando origem ao que chamamos de ciência, e permitiu que a sociedade assumisse novos formatos e atingisse progressos inimagináveis a civilizações predecessoras. É na figura do pesquisador científico e no ambiente acadêmico que uma parcela significativa das novas descobertas se manifestam, rompendo barreiras físicas e abstratas, e estimulando inovações que concernem o mundo inteiro.
Pensando no alto grau de importância dessa prática, 8 de julho foi escolhido como o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico, homenageando a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), criada nesta data em 1948. A celebração tem o intuito de divulgar o saber científico para toda a comunidade brasileira, além de promover e estimular o gosto da juventude por essas ações e direcionar os olhos da sociedade para a produção científica realizada no país. No entanto, mesmo com a data, é necessário que haja uma cultura de encorajamento e fomento da produção científica que se manifeste diariamente nos cenários em que ela está inserida, como ocorre dentro da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
A UFMA tem adotado diversas iniciativas para fomentar a ciência, incluindo a criação e o fortalecimento de programas de pós-graduação em várias áreas do conhecimento, incentivando a produção científica de alta qualidade. A Universidade promove a inovação e o empreendedorismo, investe em infraestrutura de pesquisa, como laboratórios modernos e centros de pesquisa especializados, e estabelece parcerias com instituições nacionais e internacionais para projetos colaborativos. A instituição também organiza eventos científicos, como congressos e seminários, e oferece bolsas de pesquisa, ampliando o acesso e o engajamento na ciência.
Agência de Inovação, Empreendedorismo, Pesquisa, Pós-Graduação e Internacionalização
Dados divulgados pela Academia Brasileira de Ciências apontam que as universidades públicas são responsáveis por 95% da produção científica realizada no Brasil. Em 2023, foram publicados cerca de 157 mil artigos, de acordo com a Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), colocando o país na décima posição entre os países com maior produção científica no ano. Esse volume se apresenta de forma significativa na UFMA, por meio da Agência de Inovação, Empreendedorismo, Pesquisa, Pós-graduação e Internacionalização (Ageufma), que tem atuado em promoção da inovação e do empreendedorismo dentro da instituição, incentivando a pesquisa científica e tecnológica. Além disso, incentiva o desenvolvimento acadêmico e profissional dos estudantes, e fomenta a internacionalização, estabelecendo parcerias com instituições de ensino e pesquisa ao redor do mundo para ampliar a colaboração e o intercâmbio de conhecimento.
A Universidade tem 425 grupos de pesquisa e 1.042 projetos de pesquisa vigentes que abrangem diversas áreas do conhecimento e realizam atividades em constante consonância com os debates da contemporaneidade. Além disso, no campo da pós-graduação, são oferecidos um total de 72 cursos em modalidade stricto sensu, distribuídos em 57 programas diferentes. São 52 cursos de mestrado, dos quais 39 são acadêmicos e 13 são profissionais, além de 20 programas de doutorado, sendo 18 acadêmicos e 2 profissionais.
Por meio desses programas e de estratégias de incentivo, quase como um bem invisível, a ciência se manifesta no corpo social com uma amplitude notável, servindo como aparelho para a destituição de práticas nocivas à sociedade, como o negacionismo científico. Sendo assim, é essencial que a prática não se restrinja aos muros das Instituições de Ensino Superior (IES), mas que atinja um grau extensivo e seja incentivada. É o que salienta a pró-reitora da Ageufma, Flávia Nascimento. “A ciência está em tudo que usamos diariamente. No celular, no alimento, nos medicamentos, nos combustíveis, na televisão, no computador. Muitas vezes, não percebemos quanto precisamos de desenvolvimento científico e tecnológico para nossa vida cotidiana. Não existe país desenvolvido sem investimento em educação, ciência e tecnologia e sem valorização dos seus professores e pesquisadores. O cientista é, antes de tudo, um curioso. Ele quer entender como as coisas acontecem. E, para chegar a este entendimento, ele estuda muito e dedica sua vida a essa missão. Sem dúvida, as Universidades são fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico do país. O negacionismo que se encontra em vários cantos, não só do Brasil, mas do mundo, só será vencido com a difusão do conhecimento científico. Assim, nós, na condição de instituição geradora de ciência, temos papel importante na comunicação e disseminação dos nossos achados” frisa.
Iniciação Científica
É papel da Universidade pavimentar os caminhos que os estudantes deverão adentrar para trilhar por meio dos rumos da produção científica. É pensando nisso que projetos como o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI) são oferecidos na instituição, visando promover ênfase científica aos novos talentos que surgem no ambiente acadêmico. Atualmente, entre os discentes da Universidade Federal do Maranhão, existem 270 bolsistas PIBIC e 20 bolsistas PIBITI por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA); 200 bolsistas PIBIC e 10 bolsistas PIBITI por meio da própria UFMA; e 252 bolsistas PIBIC, 31 bolsistas do PIBIC – Ensino Médio e 13 bolsistas PIBITI por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Além disso, existem cerca de 300 vinculados a esses programas que desenvolvem pesquisas de forma voluntária e que se dedicam a gerar resultados para o conhecimento científico para o Maranhão.
Quem ressalta a magnitude do Programa de Institucional de Bolsas de Iniciação Científica é o diretor de pesquisa e inovação da Ageufma, Eduardo Bezerra de Almeida Júnior, destacando as portas que se abrem aos estudantes que se vinculam ao programa. “O PIBIC é um programa que se destaca nas universidades por ser considerado como o início da carreira acadêmica do aluno. Baseados nas atividades de pesquisa, que são associadas aos projetos dos orientadores, os alunos e alunas conseguem estudar, aprender mais e amadurecer, afinal, o PIBIC também contribui na melhoria do desempenho acadêmico do aluno em sala de aula. Dessa forma, o PIBIC se destaca por estimular os jovens estudantes a se motivarem a fazer pós-graduação. Sendo um ganho para a UFMA e para o Maranhão, pois, a partir da pós-graduação, tem-se a formação de recursos humanos de alta qualidade, possibilitando que o Maranhão também se destaque no cenário nacional pela qualificação dos profissionais que são formados no estado”, afirma.
Cassia Nogueira, discente do curso de Comunicação Social – Jornalismo e bolsista PIBIC, destacou as vantagens e provações que sua vivência como pesquisadora tem trazido. “A minha experiência como pesquisadora PIBIC no Laboratório de Convergência de Mídias – LABCOM tem sido desafiadora. Durante quase um ano, tenho estudado o impacto da inteligência artificial no jornalismo, sempre descobrindo algo novo sob a orientação do professor Márcio Carneiro dos Santos. Esse projeto não só ampliou meus conhecimentos teóricos, mas também me mostrou como a tecnologia pode revolucionar o jornalismo. Colaborar com colegas nesse grupo de pesquisa me fez enxergar o futuro do jornalismo de uma forma totalmente nova e até mesmo apavorante. A experiência tem sido fundamental para minha trajetória acadêmica, e estou muito animada com as possibilidades que essa pesquisa ainda pode me proporcionar”, destaca a estudante.
Transformações reais
Não são poucos os profissionais formados pela Universidade Federal do Maranhão que propiciam melhorias e inovações significativas na sociedade. Graduandos tornam-se pesquisadores, para então formarem-se mestres e doutores e promover um cenário de mudanças reais nas comunidades. Um caso a ser destacado é o do professor de Medicina do Centro de Ciências de Imperatriz (CCIm) Aramys Reis, que iniciou sua carreira como pesquisador logo no começo de sua graduação em Farmácia, na Universidade Federal do Maranhão. Fascinado pelo potencial das plantas medicinais desde a infância, o professor começou a desbravar as fronteiras da sua área de atuação ao assistir documentários sobre o território amazônico, o que demonstra como o interesse pela ciência surge dos locais mais diversos e até mesmo inesperados. Durante a graduação, Aramys Reis foi bolsista PIBIC no Laboratório de Imunofisiologia do Centro de Ciências Biológicas e Saúde (CCBS), atuando em diversas pesquisas da área. Hoje, como docente, o professor se encontra em uma missão de incentivar a pesquisa no Câmpus de Imperatriz, promovendo mudanças sólidas e palpáveis por meio de sua produção científica e da difusão de seu trabalho.
“Ao chegar a Imperatriz, iniciei, junto com outros pesquisadores, um projeto de criação de um laboratório de pesquisa com foco na avaliação farmacológica de produtos naturais e sintéticos. Com a implementação do Laboratório de Fisiopatologia e Investigação Terapêutica – LaFIT, conseguimos oferecer suporte a vários grupos de pesquisa, permitindo que testem biologicamente os materiais que desenvolvem. Este laboratório é um sonho realizado coletivamente e espero que ele continue crescendo e se tornando uma referência no estado. Minha pesquisa atual foca na atividade farmacológica de espécies vegetais nativas, como o babaçu, mastruz e buriti. Investigo seus potenciais anti-inflamatórios, antioxidantes, fotoprotetores e antileishmania, com o objetivo de desenvolver biomateriais para aplicações farmacêuticas, cosméticas e alimentícias. Além da pesquisa, tenho um forte compromisso com a divulgação científica, utilizando plataformas como Instagram, blogs e YouTube para popularizar nossas descobertas e tornar o conhecimento científico acessível a todos”, relata Aramys Reis.
A atuação científica de Aramys, junto com a de diversos outros pesquisadores da UFMA, reverbera por toda a sociedade, seja por meio de pesquisas de grande impacto ou por premiações que reconhecem seus trabalhos. O esforço desses profissionais contribui positivamente para a disseminação da ciência. Recentemente, por exemplo, docentes da instituição foram nomeados membros dos Comitês de Assessoramento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em diversas áreas de pesquisa, evidenciando a relevância e a significativa contribuição dos pesquisadores da UFMA.
Divulgação da ciência
A Universidade Federal do Maranhão é palco de diversos eventos que têm a pesquisa como carro-chefe. Recentemente, entre os dias 24 e 28 de junho, a instituição sediou o Encontro Nacional de Geografia Agrária, evento tradicional para a área e que já está em sua 26ª edição. Promotor da interseção entre estudos da Geografia com áreas diversas da ciências humanas e sociais, o ENGA reúne estudiosos e pesquisadores dos quatros cantos do Brasil para debater sobre as mazelas que orbitam o campo e as questões agrárias do país e apresentar os resultados de seus trabalhos científicos sobre essas problemáticas.
Enquanto o ENGA finca seus pés no solo, a Space Week Nordeste 2024 alça voo em direção às estrelas. O evento, que será sediado pela UFMA entre 16 e 22 de setembro, tem por objetivo promover e aprimorar o debate a respeito da temática aeroespacial no país, repercutindo e analisando as tecnologias da área. Com o tema “Ciência e Tecnologias Espaciais em Benefício da Natureza e Sociedade”, a Space Week deve reunir professores, pesquisadores e estudantes nacionais e estrangeiros. Os interessados em submeter trabalhos científicos para o encontro devem realizar a inscrição por meio do formulário de submissão até o dia 14 de julho.
Seja no campo ou ao redor da Via Láctea, a importância está na propulsão dos ideais que rodeiam a produção científica. Por meio das bolsas ou da pura e simples vontade de pesquisar, é mais que necessário que cada vez mais políticas de incentivo à pesquisa, como as que são realizadas na UFMA, sejam oferecidas e difundidas para que a comunidade acadêmica seja capaz de atravessar os muros da Universidade, proporcionando o desenvolvimento que a sociedade almeja. É preciso que haja o encorajamento para que os produtores de ciência sigam com espaço para questionar com pertinência, como afirmou Cláude Lévi-Strauss, antropólogo francês: “O cientista não é aquele que fornece as respostas certas, mas, sim, quem formula as perguntas certas”.