João Felipe M. Demito responde processo de violência domestica

Justiça do Maranhão entrega guarda de filha a pai acusado de violência doméstica e abusos psicológicos contra ex-companheira

O Mês da Mulher no Maranhão começou com promessas bonitas. A Justiça estadual lançou o projeto “Dire Apoia”, uma iniciativa que, segundo o Tribunal, visa promover saúde, segurança, cidadania e bem-estar no ambiente de trabalho. A ideia, vendida como um avanço para as mulheres, soa quase irônica diante do que os números e as histórias reais revelam. Março de 2025 está sendo um dos períodos mais violentos para elas no estado, com registros de violência doméstica, feminicídios e abusos crescendo em um ritmo alarmante. E, no meio desse caos, um caso chocante de violência jurídica e estrutural rouba a cena: a batalha da engenheira elétrica Paula Thereza Portela Gewehr, que expõe as entranhas de um sistema que falha em proteger quem mais precisa.

O ex-marido de Paula Thereza, João Felipe M. Demito, que detém influencia e dinheiro, e já responde por processos de violência domestica, sendo filho do ex-prefeito de Balsas Jonas Demiro, e para completar, a advogada do ex-marido abusador é esposa do presidente do Tribunal de Justiça do Maranhão, Froz Sobrinho.

Paula, uma mulher de 29 anos, mãe de Aurora, de 2 anos e 8 meses, é conhecida entre amigos e familiares por sua determinação. Mas, por trás da força que exibe hoje, há anos de um relacionamento abusivo que a destruiu aos poucos. “Eu sumi. Não só das redes sociais, mas da minha família, dos meus amigos, de mim mesma”, conta. O ex-parceiro controlava cada detalhe de sua vida: trocou o chip do celular para isolá-la, proibiu-a de ir à academia, de buscar ajuda psicológica e até de usar batom vermelho ou pintar as unhas – tudo era “coisa de rapariga”, nas palavras dele. A pressão para engravidar foi o ápice da coerção. “Ele jogava meus anticoncepcionais fora. Cada tentativa de tomar o remédio virava uma briga feia”, lembra. Aos 27 anos, recém-contratada pela Eneo Distribuição, em São Paulo, com sonhos de carreira e independência, ela acabou cedendo. “No meu aniversário, ele me cobrou: ‘Tu é mulher de palavra’. Joguei o remédio fora e, seis dias depois, engravidei.

A chegada de Aurora, em 2022, nos Estados Unidos, trouxe luz, mas também mais tormento. O ex-parceiro decidiu que o parto seria normal, “porque queria ter cinco filhos”, e vetou médicos homens, mesmo com Paula em trabalho de parto por 15 horas. “Injetaram hormônios pra forçar o parto natural. A cabecinha da Aurora já estava encaixada, mas ele não deixou o médico de plantão agir. Tivemos que esperar a médica mulher vir de casa. Um minuto a mais, e minha filha talvez não tivesse sobrevivido”, relata, com lágrimas na voz. Aurora nasceu com cidadania americana, um detalhe que hoje assombra Paula: “Com o assaporte dela, ele pode levá-la do país sem minha autorização. É um medo que não me larga.

Dois anos após o fim do relacionamento, Paula ainda carrega as marcas do abuso. Ela registrou o caso em Araguaína, Tocantins, amparada pela Lei Maria da Penha, mas uma medida protetiva foi arquivada – segundo ela, por influência de dembargadores em São Luís. A violência, porém, ganhou um novo capítulo: a luta pela guarda de Aurora. Em dezembro de 2024, um juiz de Balsas, no Maranhão, deu a guarda unilateral ao pai e restringiu o contato de Paula a chamadas telefônicas e visitas presenciais apenas em julho, nas férias escolares. “Nunca impedi ele de ver a Aurora. Ele liga toda quarta por vídeo, combinamos finais de semana alternados, tudo extrajudicialmente. Não há motivo pra me tirarem ela”, diz, indignada.

O que torna a decisão ainda mais absurda é a falta de um estudo psicosocial, algo essencial em mudanças de guarda. O argumento do juiz? A mudança de Paula para São Paulo, onde trabalha na Eneo desde antes do relacionamento. “Eu já era de São Paulo. Na pandemia, em 2021, trabalhava de casa. Em 2022, passei a vir todo mês com Aurora e minha mãe ou a babá, saindo de Balsas, sem aeroporto, pra Imperatriz ou Goiânia. Em 2024, a empresa exigiu três dias presenciais por semana. Por que me punir por trabalhar?”, questiona. Com apoio jurídico, ela conseguiu uma liminar em São Luís suspendendo a decisão de Balsas, mas o pesadelo está longe de acabar.

Hoje, 19 de março de 2025, o agravo de Paula está em julgamento no Tribunal de Justiça do Maranhão. A esperança, porém, é ofuscada pelo medo. “Uma das advogadas dele é esposa do presidente do Tribunal. Isso dá um peso enorme pros desembargadores, e eu posso perder minha filha pra sempre”, alerta. Exausta, ela desabafa: “É uma luta sem fim. Saí de um relacionamento abusivo, mas ele ainda controla minha vida por decisões judiciais.

Enquanto o “Dire Apoia” enfeita os corredores da Justiça com promessas de apoio às mulheres, o Maranhão afunda em uma onda de violência. Casos como o de Paula mostram que os projetos institucionais são só maquiagem diante de um sistema que falha em proteger. “Sempre ouvi que ninguém tira um filho de uma mãe que cuida, que zela. Mas, no meu caso, a justiça não é igual pra todos”, lamenta ela. O aumento de feminicídios e abusos no estado reforça o contraste: de um lado, discursos bonitos; de outro, mulheres silenciadas por agressores e por um Judiciário que, em vez de amparar, muitas vezes pune.

Paula, que voltou às redes sociais em 2024 como “uma nova Paula, uma Paula mãe”, clama por justiça: “A Aurora me deu um propósito. Só quero protegê-la.” Seu caso é um grito que ecoa entre mães e mulheres solidárias: “Imaginar sua filha levada a 3 mil quilômetros por uma decisão injusta é desesperador.” Neste Mês da Mulher, o Maranhão precisa de mais do que projetos de fachada – precisa de ações que enfrentem a violência de frente e devolvam às mulheres o direito de viver sem medo.

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