O Ministério Público uniu duas investigações para apurar uma teia de contratos que envolvem obras de estradas de execução da Mix Gestão Construção e Locação Ltda, aluguel de equipamentos de competência da Agla’s Infraestrutura e uma terceira empresaa Lucena Infraestrutura que, na prática, estaria executando os serviços – e ainda por cima, usando caminhão-pipa em propriedades privadas do prefeito.
A cidade de Buriticupu virou o centro de uma investigação explosiva do Ministério Público do Maranhão (MPMA). Em mais uma decisão que foi publicada no Diário Oficial, o Promotor de Justiça Felipe Augusto Rotondo unificou as denúncias sob a Notícia de Fato nº 001760-283/2025, mirando o Prefeito João Carlos Teixeira da Silva e um esquema suspeito que movimenta quase R$ 9,4 milhões dos cofres públicos.
O MP não está de brincadeira e quer entender por que tanto dinheiro foi gasto em dois contratos que parecem se cruzar de forma ilegal.
A investigação foca em dois contratos milionários assinados pela Prefeitura, e o MP já tem os valores que foram parar nas contas das empresas:
- O contrato da obra da MIX: Obras de recuperação de 94 km de estradas vicinais.
- Valor Total do Contrato: R$ 4.386.742,52 (quatro milhões trezentos e oitenta e seis mil setecentos e quarenta e dois reais e cinquenta e dois centavos);
- Valor já recebido: R$ 931.717,26 (novecentos e trinta e um mil setecentos e dezessete reais e vinte e seis centavos).
- O contrato do aluguel da AGLA’S: Locação de máquinas pesadas.
- Valor total do contrato: R$ 5.092.408,80 (cinco milhões noventa e dois mil quatrocentos e oito reais e oitenta centavos);
- Valor já recebido: R$ 4.212.732,69 (quatro milhões duzentos e doze mil setecentos e trinta e dois reais e sessenta e nove centavos).
O papel suspeito da AGLA’S e a entrada da Lucena
O grande nó da investigação é a suspeita de que esses contratos estão sendo usados de forma paralela para mascarar uma operação de “terceirização total” – o que é proibido por lei.
As denúncias apontam que a obra de R$ 4,3 milhões, que deveria ser tocada pela MIX, estaria sendo feita, na verdade, com máquinas locadas pelo contrato de R$ 5 milhões da AGLA’S.
Chama a atenção o valor já pago: A AGLA’S, que deveria apenas alugar as máquinas, já recebeu R$ 4,2 milhões, o que representa mais de 82% do seu contrato total, enquanto a MIX, a responsável oficial pela obra, recebeu menos de R$ 1 milhão (cerca de 21%).
Mas a trama não para aí: o MP descobriu que os veículos locados pela AGLA’S para o município pertencem ou são operados pela Lucena Infraestrutura Ltda, do empresário Antonio Edinaldo de Luz Lucena.
Em outras palavras:
- A MIX ganhou a obra.
- A AGLA’S ganhou a locação de máquinas e já abocanhou a maior parte do dinheiro.
- A Lucena é quem, de fato, estaria operando os equipamentos.
O Promotor de Justiça quer saber se a AGLA’S e a MIX estariam agindo como “empresas de fachada” para que a Lucena, que não ganhou a licitação de obras e talvez nem a de aluguel, execute o serviço na íntegra. Isso configura uma possível subcontratação total ou um arranjo contratual simulado, com alto potencial de prejuízo ao dinheiro público. O foco do MP será a congruência físico-financeira, ou seja, se a Prefeitura pagou R$ 4,2 milhões à AGLA’S por aluguel que, supostamente, estaria bancando a obra da MIX.
O ponto mais quente: máquinas da Prefeitura em propriedade do Prefeito
A denúncia que realmente acendeu o alerta no MP foi o uso de maquinário locado pelo município em locais privados ligados ao Prefeito.
A investigação anterior, agora apensada ao novo inquérito, tinha como foco o uso de um caminhão-pipa (placa SND8I91) e outras máquinas que teriam sido flagradas em uma residência e fazenda atribuídas ao gestor.
A suspeita é clara: dinheiro público sendo usado para pagar máquinas que deveriam estar recuperando estradas, mas que estariam trabalhando no conforto da propriedade do Prefeito. O MP exigiu que a Prefeitura apresente uma justificativa detalhada sobre o uso desse caminhão-pipa e de outros veículos nesses endereços privados.
MP bloqueia documentos: a ordem é preservar as provas
Para evitar o sumiço de evidências, o Promotor determinou medidas de urgência, popularmente chamadas de “ordem de preservação de provas”.
- Bloqueio de dados: Ofícios foram enviados com urgência para a Prefeitura e para a MIX, AGLA’S e Lucena, proibindo-as de apagar qualquer tipo de documento ou registro.
- O que o MP quer ver: Diários de obra, notas fiscais, comprovantes de pagamento, relatórios de combustível, rastreamento por GPS dos veículos, logs de utilização das máquinas e até os metadados (informações ocultas) de fotos e vídeos.
A investigação também solicitou cópias de todos os documentos de licitação e contratos, e a lista completa de veículos próprios e alugados para verificar se a Prefeitura está cumprindo a Lei Municipal nº 0105/2005, que exige identificação visual obrigatória nos veículos públicos — mais um ponto que pode revelar a irregularidade do uso do maquinário.
Com o caso agora unificado e as provas sob “custódia” do MP, a próxima etapa é a análise técnica-pericial, onde os especialistas do Ministério Público vão cruzar os pagamentos com o que realmente foi executado nas ruas de Buriticupu, focando principalmente no valor já desembolsado para a AGLA’S.
O Blog Joerdson Rodrigues reitera que a presente matéria se baseia integralmente na decisão pública do Ministério Público, que se encontra na fase de investigação para confirmar ou desmentir as suspeitas de fraude e desvio de recursos.

