O blog publicou nesta segunda-feira, 30, o primeiro texto da série ‘Gasparzinho’, que abriu as investigações conhecidas como ‘fantasminha camarada’. No primeiro capítulo, revelamos a história por trás de um posto de saúde que só existe no papel. A série de revelações a partir de um acervo que ao qual tivemos acesso expôs a gestão do prefeito Wallace Azevedo, candidato à reeleição.
No episódio de hoje, no entanto, a situação envolve uma importante área da administração: a infraestrutura. Na ocasião, vamos revelar o caos nas estradas rurais e um suposto esquema de corrupção na Prefeitura, denominada de “máfia das pontes de madeira”. Segundo as informações, trata-se de um esquema de superfaturamento na construção de pontes de madeira que pode ter causado milhões em prejuízo aos cofres públicos. Nos povoados, os moradores reclamam da precariedade nas estradas vicinais. Em algumas regiões, as estradas precárias dificultam acesso da população a direitos básicos como educação, saúde, trabalho e renda.
“Quando a chuva cai e os rios enchem, se um filho de Deus passar mal e precisar ser levado urgentemente para o hospital, ele morre porque não tem como passar”, desabafou uma moradora de um povoado do município que pediu para não revelar o seu nome.”
Como democratizar o acesso de pessoas oriundas de áreas rurais a direitos fundamentais se o caminho para alcançá-los esbarra na impossibilidade de transitar no território onde vivem?”, questionou a moradora da localidade rural.
Sem solução definitiva
Alvos constantes na lista de promessas eleitorais, as pontes têm dado dor de cabeça a muitos icatuenses. Cansados do troca-troca e das maquiagens, populares obrigados a transitar diariamente pelas estruturas de madeira que se tornam frágeis com o tempo reivindicam uma solução definitiva ao invés dos reparos paliativos.
O prefeito Wallace, por sua vez, insistiu na manutenção das pontes de madeira ao longo de sua gestão. Um levantamento realizado pela reportagem constatou que foram quase R$ 1 milhão nos últimos quatro anos. Em algumas situações, por exemplo, pontes que seriam de concreto acabaram sendo feitas de madeira.
Em outubro de 2022, o secretário Jayzon Torres Chaves, titular da Secretaria Municipal de Administração, chegou a assinar um contrato com a empresa SFS Construções e Pré Moldados Eireli, no valor de R$ 781.923,29. A proposta, cujo objeto seria a prestação de serviços de recuperação e manutenção de pontes de madeira, foi firmada por meio de Ata de Registro de Preços.
Além disso, também encontramos um contrato firmado no final da gestão anterior com a empresa Construtora Alternativa Eirei. Neste caso, o contrato no valor de R$ 190.020,67, seria para a construção de uma ponte em concreto, no povoado Santa Isabel, e colocação de tubos com alta resistência no povoado Pedro Gonçalo.Caos motiva tragédia
A opção por pontes de madeira em vez de concreto tem uma explicação: a construção de pontes de madeira pode ser bem mais barata do que as tradicionais estruturas de concreto. O barato, entretanto, pode sair caro. Em junho de 2022, um caminhão carregado caiu dentro do rio Amazonas, no povoado Salgado, após passar por uma estrutura de madeira que quebrou enquanto o veículo transitava pelo local.
De acordo com relatos, a ponte que liga os demais povoados da zona rural de Icatu, estava em péssimas condições, sem a atenção do poder público municipal. Para quem transita pelo povoado, precisa arcar com as despesas de duas passagens, que dificultam ainda mais a vida de muita gente.
O fato ocorreu no mesmo período em que Wallace Azevedo virou destaque em descaso estadual, após uma comunidade derrubar a própria escola por falta de infraestrutura que o gestor nunca ofereceu aos alunos.