Enquanto a família do policial militar Gleidson Thiago clama por justiça, o prefeito de Igarapé Grande, João Vitor Xavier, manobra politicamente para se licenciar do cargo, e o Tribunal de Justiça do Maranhão adia decisão sobre sua prisão, levantando suspeitas de interferência.
Uma semana se passou desde a noite de domingo (6/7), e a sensação de impunidade e injustiça ainda paira sobre o Maranhão. O policial militar Gleidson Thiago da Silva dos Santos, o “Dos Santos”, foi assassinado a sangue frio, e o autor confesso do crime, o prefeito de Igarapé Grande, João Vitor Xavier (PDT), não só continua em liberdade, como agora busca se afastar do cargo em uma clara manobra política, enquanto o Judiciário parece paralisado.
O crime, que chocou o estado, aconteceu durante uma vaquejada no Parque Maratá, em Trizidela do Vale. Após um desentendimento, o prefeito, armado com uma pistola que admitiu não ter registro, efetuou cinco disparos pelas costas do PM, que estava desarmado e fora de serviço. A frieza da execução, relatada por testemunhas, contrasta com a lentidão da justiça.
No dia seguinte ao homicídio, João Vitor Xavier se apresentou à polícia. Acompanhado de advogados, confessou os disparos, mas alegou uma frágil tese de legítima defesa. Por não ter sido preso em flagrante, um benefício que a lei concede a quem se apresenta “espontaneamente”, ele foi liberado após o depoimento, como se nada grave tivesse acontecido.
A Polícia Civil agiu rápido e, na terça-feira (8), o delegado Márcio Coutinho representou pela prisão preventiva do prefeito. Aqui, o caso esbarrou em um dos maiores entraves da justiça brasileira: o foro privilegiado. Por ser prefeito, o pedido de prisão não foi analisado por um juiz de primeira instância, mas subiu diretamente para o Tribunal de Justiça do Maranhão (TJMA).
No entanto, a urgência que o caso exige foi ignorada. O desembargador relator, Jorge Rachid Mubárack Maluf, em vez de decidir, entendeu que a competência seria de uma das Câmaras Criminais da Corte, e não do Órgão Especial. Essa redistribuição, na prática, significa mais tempo. Tempo que, para um assassino confesso com poder político e econômico, é um bem precioso. Para a família da vítima e para a sociedade, é um atestado de que nem todos são iguais perante a lei.
Enquanto o TJMA se mantém em um silêncio ensurdecedor, sem dar qualquer satisfação sobre os prazos para a análise da prisão, o prefeito João Vitor Xavier age nos bastidores. Ele protocolou um pedido de licença de 120 dias na Câmara de Igarapé Grande, alegando “profundo abalo psicológico”. A manobra, que deve ser aprovada sem dificuldades por sua base aliada de vereadores, garante que ele se afaste dos holofotes e entregue o comando da prefeitura para sua vice, Maria Etelvina Sampaio Leite (PDT), mantendo o poder em seu grupo político.
A licença soa como um deboche para as associações de policiais militares e para a população, que cobram uma resposta firme e célere. Como um homem que alega “abalo psicológico” após cometer um assassinato pode ser considerado apto a governar, ou mesmo a continuar livre? A paralisia do Judiciário e a articulação política do prefeito reforçam a perigosa suspeita de que, no Maranhão, o poder e a influência ainda podem estar acima da justiça.