Uma noite que deveria ser de festa e tradição em Trizidela do Vale terminou em tragédia e lança uma sombra de incertezas sobre a administração de Igarapé Grande. O prefeito João Vitor Xavier (PDT) é o principal suspeito de ter matado a tiros o policial militar Geidson Thiago dos Santos, de 39 anos, durante uma vaquejada no último domingo (6). O gestor se afastará do cargo por 180 dias para acompanhar o desenrolar do processo, mas a sua liberdade, garantida por uma apresentação espontânea à polícia, levanta questionamentos sobre justiça e privilégio.
Acompanhado de sua equipe jurídica, o prefeito se apresentou na Delegacia Regional de Presidente Dutra na segunda-feira (7). Essa manobra, amparada por um entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), impede a prisão em flagrante e permite que ele responda ao inquérito em liberdade.
Em depoimento, João Vitor admitiu a autoria do disparo fatal. A defesa alega legítima defesa, argumentando que o prefeito reagiu a uma ameaça iminente. Segundo essa versão, a vítima, que estava de folga e não teria sido identificada como policial pelo prefeito, sacou uma arma primeiro. Contudo, a arma utilizada por Xavier, um revólver calibre .38, não possuía registro e, para agravar a situação, foi descartada após o crime, um ato que por si só levanta suspeitas e dificulta a perícia.
O policial militar Geidson Thiago dos Santos chegou a ser socorrido, mas não resistiu à gravidade dos ferimentos. A sua morte abrupta e violenta deixa uma lacuna na corporação e na comunidade, que agora clama por respostas.
A decisão pelo afastamento do cargo, embora necessária diante da gravidade do caso, não apaga as críticas sobre a conduta do prefeito. A presença de um gestor público portando uma arma ilegal em um evento público é, no mínimo, uma demonstração de irresponsabilidade que culminou na perda de uma vida.
Enquanto o prefeito se prepara para sua defesa, a vice-prefeita Maria Etelvina (PDT) assumirá o comando do município. A população de Igarapé Grande, por sua vez, fica com a sensação de instabilidade e a dolorosa dúvida: a justiça será igualmente aplicada a todos, independentemente do cargo que ocupam? O caso expõe as feridas de uma sociedade onde a violência e a política por vezes andam perigosamente próximas, e onde a lei parece ter interpretações distintas.