Uma trama política e financeira envolvendo a Prefeitura de Codó, um escritório de advocacia e o casal senadora Ana Paula Lobato (PSB) e deputado Othelino Neto (Solidariedade) levanta sérias questões sobre amizade, favoritismo, direcionamentos administrativos, o uso de recursos públicos e a ética na política maranhense.
Segundo dados levantados pelo blog Joerdson Rodrigues no Portal da Transparência do governo federal e no sistema do Tribunal de Contas do Estado (TCE), mostram uma coincidência sobre recursos e contratos que, no mínimo, exige uma investigação aprofundada dos órgãos de controle e fiscalização.
O fio da meada
A teia começa com o estreitamento de laços políticos e de amizade entre o deputado estadual Othelino Neto e o deputado Francisco Nabig, filho do prefeito de Codó, Chiquinho FC (PT). O alinhamento político pavimentou o caminho para a destinação de uma gorda emenda parlamentar da esposa de Othelino, a senadora Ana Paula.
Segundo o Portal da Transparência do governo federal, o Fundo Municipal de Saúde de Codó recebeu R$ 7,5 milhões através de uma emenda da senadora Ana Paula Lobato, esposa de Othelino Neto. A emenda, de número 42830001-2025, injetou um volume significativo de recursos nos cofres municipais de Codó.

O ‘coincidente’ contrato
É no cruzamento dos dados que a situação se torna mais delicada. O escritório de advocacia Noleto & Aguiar Advogados Associados, conhecido por defender os interesses pessoais do casal Ana Paula Lobato e Othelino Neto em diversos casos na Justiça do Maranhão, conseguiu contratos um tanto que polêmicos na gestão de Chiquinho FC, em Codó.
O escritório firmou três contratos por inexigibilidade de licitação – um método que dispensa a concorrência – com a Prefeitura de Codó, totalizando R$ 780 mil. Os contratos foram assinados em 23 de março de 2025, um período muito próximo da movimentação da emenda parlamentar.

Mais grave ainda, a gestão municipal já repassou R$ 470 mil ao escritório do período de assinatura do contrato até a publicação desta matéria, conforme detalhado abaixo:
Setor | Valor Pago |
Administração | R$ 210.000,00 |
Educação | R$ 120.000,00 |
Saúde | R$ 80.000,00 |
Assistência Social | R$ 60.000,00 |
Total | R$ 470.000,00 |
A sombra da dúvida
A sequência de eventos é perturbadora: primeiro, o escritório que a representa pessoalmente a senadora e seu marido consegue três contratos sem licitação na prefeitura administrada pelo aliado político e amigo; segundo, a senadora destina R$ 7,5 milhões para o município; e terceiro, o referido escritório já recebeu quase meio milhão de reais da gestão municipal.
Em um estado com tantas demandas sociais como o Maranhão, a suspeita de troca de favores – Emenda por Contrato – paira sobre a administração de Codó e o casal político. A contratação por inexigibilidade, que deveria ser uma exceção, é frequentemente alvo de questionamentos, e quando somada à injeção de verba federal e ao vínculo pessoal com os beneficiários, cria um cenário de conflito de interesses que precisa ser urgentemente esclarecido.
A sociedade de Codó e o Maranhão merecem transparência e a garantia de que os milhões de reais destinados à saúde e outras áreas não estão sendo desviados para alimentar uma “teia de negócios” com base em alianças políticas. O papel do Ministério Público e do Tribunal de Contas é fundamental para desfazer esse nó e garantir a lisura na aplicação do dinheiro público.